Por: Jonas J. Berra
O livro “Tudo o que você precisou desaprender para virar um idiota” de Álvaro Borba e Ana Lersnovski foi publicado no final de 2019. Tem como objetivo destruir as mentiras da obra do pseudointelectual Olavo de Caralho e seus asseclas, principalmente no que tange à compreensão dos problemas das ciências naturais (física, astronomia, química e biologia) e das ciências humanas (filosofia, sociologia, história, política e economia). Porém, não se trata de criar uma outra verdade, tão falsa quanto a do pseudointelectual, pois o que está em jogo não é apenas quem tem mais razão, mas impedir o mal da ignorância e desinformação, tão nocivos à uma compreensão genuína da verdade objetiva. Não sendo, desse modo, aquela “verdade” fabricada com interesses políticos e religiosos, tais como a do astrólogo enganador.
A obra mistura a seriedade do problema a ser combatido, isto é, a idiotice, com pitadas de humor, que exige certo grau de atenção para quem não está familiarizado com a temática. Isto porque quando se fala do tal “guru” da direita com a população não acadêmica e menos interessada em política e ciência, a resposta é: “quem?”. Claro que a maioria das pessoas não saberá de quem se está falando, o tal “filósofo. Mas há um grande risco de que pessoas simples e desinformadas entrem em alguma livraria e se deparem com um livro volumoso, cujo título parece revelar toda a verdade sobre o mundo: “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. É tentador, não é? A tentação está justamente no fato de que nenhum de nós deseja ser idiota. Nisso consiste seu sucesso: massagear o ego arrogante do IDIOTA.
É diante da ameaça da
continuidade do avanço da massa arrogante e pseudointelectual que a obra “Tudo
o que você precisou desaprender para virar um idiota” se torna uma luz de
esperança. Durante a leitura da mesma, é possível encontrar capítulos discutindo
idiotices de redes sociais, como o “terraplanismo” e o “gaysismo esquerdista
comunista”. Parece que quanto mais bizarra é a ideia ou teoria da conspiração,
mais ela se espalha. Desse modo, entende-se por teoria da conspiração uma ideia
falsa que é aceita pelas pessoas. A obra de Álvaro Borba e Ana Lersnovski é uma
espécie de antídoto contra ela.
Veja abaixo alguns capítulos da obra,
que desconstroem as principais teorias conspiratórias que corroem a mente de
parte da população do Brasil:
Capítulo 1 - Teorias
conspiratórias são irrefutáveis, mas isso não as torna verdadeiras.
Capítulo 6 - Direitos humanos não
são uma ferramenta de dominação global.
Capítulo 7 - Politicamente
correto é coisa da direita.
Capítulo 12 - Ideologia de
gênero, não; Estudos de gênero, sim.
Capítulo 16 - Vacinas são
seguras.
Capítulo 17 - A Terra é plana, e
mais: ela gira em torno do sol.
Capítulo 19 - Não há razão para
duvidar das mudanças climáticas.
Capítulo 21 - O Foro de São Paulo
jamais foi uma organização secreta.
Capítulo 22 - A lei Rouanet não é
uma mamata.
Observando-se os títulos dos
capítulos, percebe-se que é uma obra que não possui a necessidade de ser lida de
uma maneira linear. Se você quiser pode começar desconstruindo aquele assunto
que você mais ouve falar por aí, como a ideia de que a Terra é plana ou de que
a lei Rouanet é coisa de vagabundo esquerdista para roubar dinheiro público.
Um dos méritos da obra é ser uma
crítica realista, honesta e objetiva sobre pensamentos, ideias, teorias conspiratórias
que se popularizaram em meio ao senso comum de grupos mais vulneráveis: pessoas
de várias faixas etárias, que em geral possuem pouca leitura e baixo ou nenhum
conhecimento dos procedimentos da pesquisa científica. Não é à toa que a maioria dessas
pessoas nunca deve ter lido algo de Richard Dawkins, Umberto Eco, Maquiavel,
Gramsci, Freud, Hannah Arendt ou Paulo Freire. Tudo que dizem saber é por
intermédio do “guru”, que fez todo o trabalho sozinho. E elas, não se dão o
trabalho de checar o conteúdo da obra.
Portanto, creio que a obra de Álvaro
Borba e Ana Lersnovski se situa em meio a um paradoxo: virar referência
dos mais estudiosos contra a pseudointelectualidade e, por outro lado, ser
criticada pelos alienados como ofensa ao “guru”. Desse modo, não cabe a este
texto resumir a obra para os preguiçosos que se alimentam do senso comum, mas
provocar o desejo dos que buscam o saber por conta própria, como ensinava
Horácio e Kant: “Ouse saber!”.