Por: Jonas J. Berra
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Não, apesar de estarmos falando do Paraná isso não
acontece só aqui, ainda que tenha se tornado uma prática banal do atual
governo. Não é comum, pois não pode ser aceito como normal. Para a filósofa Hannah
Arendt (Apud MORAES; BIGNOTTO, 2001, p.144)[2], “existe uma diferença fundamental:
lugar-comum é o que acontece frequentemente, o que acontece comumente, porém
algo pode ser banal mesmo sem ser comum”.
Mas além de ser uma banalidade, o fechamento das salas de
aula é algo absurdo para quem compreende minimamente a importância da educação
ao longo da história e como foi difícil termos escolas públicas no Brasil e em
grande parte do mundo. Poderíamos demonstrar através da história da educação
todos os percalços vividos pela humanidade para termos locais públicos de
socialização do saber, mas ao invés disso gostaríamos de mencionar brevemente
alguns pontos chaves da história da filosofia e da reflexão filosófica em geral,
que nos permitem compreender parte da gravidade que é o fato de termos salas de
aulas sendo fechadas no estado do Paraná.
Observa-se que ao longo da história da filosofia podemos
encontrar vários pensadores que acreditavam na popularização do saber, que
tentavam aos poucos levar os seus interlocutores ao desenvolvimento de uma
racionalidade crítica e criativa. Na antiguidade é ilustre a figura de Sócrates,
que dialogava com os jovens pelas ruas da polis provocando-os a questionar a
autoridade dos que se diziam conhecedores da verdade. Tornou-se o símbolo do “Filósofo
ideal”[3].
Na modernidade, Kant foi um grande representante do chamado Iluminismo,
enfatizando a importância da busca do conhecimento verdadeiro, do racionalismo
no processo de aquisição desse conhecimento e defendendo, do ponto de vista
político, a paz mundial. O fundamento dessa paz mundial seria o esclarecimento,
que “é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A
menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de
outro indivíduo” (KANT, 1974, p. 100). A educação seria um forte meio de
colaborar com a ampliação da capacidade dos jovens de pensarem por si mesmos,
todos colaborando com a construção de um mundo melhor.
No mundo contemporâneo Theodor Adorno foi um filósofo que
tinha especial preocupação com assuntos relacionados à influência de uma boa
educação na construção da sociedade. Um exemplo de como devemos nos preocupar
com o tipo de educação recebida pelos jovens é a ênfase com que Adorno dá a
entender que nunca devemos nos esquecer de Auschwitz[4],
e que cabe à educação impedi-la de se repetir (1995, p. 117). Portanto, a
educação tem um papel crucial de resistência. Educar-se significa resistir frente
às adversidades, como, por exemplo, a possibilidade de haver uma nova Auschwitz
caso os seres humanos esqueçam o terror e o sofrimento que a primeira
representou.
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Será que o governo quer chegar a isso? (fonte: Crónicas do Homer) |
Se a educação tem essa capacidade de, quem sabe, ser um
meio de resistência aos terrores absurdos do passado, ela pode ser a
justificativa fundamental de não podermos, sob hipótese alguma, aceitar o fechamento
de salas de aula em pleno funcionamento. Não devemos nos posicionar
filosoficamente contra uma imposição, sendo capazes de denunciar e debater esse
problema? Afinal, quais seriam os verdadeiros pressupostos e justificativas do
governo, para fechar as salas de aula? O que estaria por trás deste fechamento?
Como ficam as pessoas prejudicadas com o fechamento? Qual a real relação entre
o fechamento das salas de aula e o orçamento do governo do estado? Falta
realmente dinheiro, ou é mal gerido?
[1] Não importa qual a posição política que tenhamos, pois mesmo quem é
do PSDB poderá ter razões para não concordar com o fechamento das salas provocado por este governo. Uma
das razões poderia ser o fato de não devermos prejudicar a educação por causa
de um problema econômico de todo um governo. Para lembrar, é interessante ler:
http://www.brasil247.com/pt/247/parana247/131407/Richa-quer-fechamento-de-salas-em-escolas-p%C3%BAblicas.htm.
[2] Não consegui
encontrar a citação direta da autora, mas a obra citada contém uma série de
reflexões e diálogos em que Arendt participou diretamente.
[3] Essa menção a
Sócrates é bastante comum para a maioria dos estudantes de filosofia, pois o
filósofo é quase sempre apresentado como um grande Sábio que sofreu uma
condenação injusta. O site Terra tem um pequeno artigo a respeito dessa questão
do “Filósofo Ideial”: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/filosofia3.htm.
[4] Auschwitz era um campo de concentração para onde Hitler enviava os
judeus como escravos e onde seriam assassinados nas câmaras de gás.
Referências:
ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. São Paulo: Paz
e Terra, 1995.
CARVALHO, Alonso Bezerra de. A Filosofia da Educação Kantiana: Educar Para a Liberdade. São Paulo: Unesp, s/a. Disponível em:
<http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/128/3/01d07t03.pdf>.
Acesso em: 05 março 2014.
KANT, Immanuel. Textos Seletos. Petrópolis: Vozes,
1974.
MORAES, Eduardo Jardim;
BIRGNOTTO, Newton (Orgs.). Hannah
Arendt: diálogos, reflexes, memórias. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
Outras referências da internet:
Vídeo:
Blog do Esmael: http://www.esmaelmorais.com.br/2014/02/em-crise-governo-richa-manda-fechar-salas-de-aula-no-parana/
APP Sindicato:
2 comentários :
Exemplo vergonhoso de administração do governo paranaense... Isso é Brasil!!
Você tem razão Alexandre. E se esse tipo de gente governasse o país, estaríamos ainda piores do que estamos.
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