Por: Andrej Carraro
Não faz muito tempo que youtubers de (extrema) direita soltaram
suas pérolas como a de que “Marx é responsável pela morte de milhões de pessoas”, “o comunismo matou mais gente que o nazismo”, “Che Guevara era um assassino
sanguinário”, entre tantas outras baboseiras ditas sem aprofundamentos teóricos,
ou melhor, por pura desonestidade intelectual. Criaram por todo esse tempo um
conceito deformado da esquerda, a transformando em grupos de pessoas ou
partidos com propósitos malignos na Terra. Algo preocupante que culminou no
massacre das fake news sobre os
partidos de esquerda nas ultimas eleições no Brasil, principalmente o Partido
dos Trabalhadores e alavancou o crescimento do fascismo e a vitória da extrema
direita para governar a partir de 2019.
Esse discurso é preocupante,
pois se trata de uma grande mentira contada várias vezes até se tornar verdade,
uma tática Goebbelista que conseguiu atingir seu objetivo. Outro agravante
nessa crescente onda de ódio para cima de partidos de esquerda e comunistas ou
qualquer coisa que supõem ser comunista é a retirada do foco nos reais
problemas do mundo: o sistema capitalista. E fortalecem o conceito de que é “o
melhor sistema em que a humanidade pode existir”. Esse consenso é a maior
preciosidade dos capitalistas que permanecem explorando os trabalhadores e
trabalhadoras cada vez mais alienados e crentes que estão vivendo no sistema
mais justo e livre possível.
Com o crescimento de
lideranças fascistas (Brasil, 2018) e a sua chegada ao poder, a esquerda se vê obrigada a
fazer uma reflexão e a se unir, mas têm um grande trabalho pela frente que é
derrubar o senso comum anticomunista e construir uma nova compreensão da realidade, mais
progressista e com interesse à classe trabalhadora. Derrubar aqueles conceitos
que formaram o senso comum popular anticomunista é uma tarefa fácil para um bom
entendedor de política, mas é tarefa árdua tornar isso um entendimento
popular.
Enquanto isso, grandes
empresários e banqueiros estão com a faca e o garfo na mesa esperando o
banquete que o novo governo lhes oferecerá, sem medidas que promovam qualquer
tipo de reforma bancária ou agrária e sem medo de fazer reformas trabalhista e
previdenciária, pelo menos em primeiro momento ainda usufruindo da
popularidade.
Consequentemente o novo
governo colocará na bandeja da privatização nossas estatais e enfraquecerá a
soberania nacional, ironicamente por um governo que se diz patriota, dando
inicio a neocolonização que insiste na América Latina e no chamado outrora de
Terceiro Mundo. Mas o que isso tem a ver com
os youtubers conservadores do início
do texto? Trata-se de uma cortina de fumaça ideologicamente falsa que
criou uma grande teoria da conspiração mirabolante com inspiração nas falácias
de Olavo de Carvalho, o mesmo “grande filósofo” que diz que "vacinas
servem para adoecer" e a "Terra é plana".
A verdade é que não existem
sistemas perfeitos. Também é verdade que nunca existiu e nem existe atualmente um país
comunista (Marx) e seria praticamente impossível que surgisse no mundo atual. Existiram e existem países
governados por socialistas, que sobrepõem políticas parcialmente socialistas em
suas nações. Cuba, por exemplo, é um país cujo governo exerce forte política
socialista internamente, mas precisa sustentá-lo abrindo para economias
capitalistas, ou seja, importa e exporta assim como também tem como forte
movimentação econômica o turismo. Logo, nem mesmo socialismo (anterior ao comunismo segundo Marx) existe plenamente
em qualquer lugar do mundo sendo que para isso precisaria derrubar a hegemonia
capitalista global.
 |
Mao Tse-Tung à esquerda e Josef Stalin à direita. |
Em relação às milhões de
mortes provocadas pelo comunismo e que foram impulsionadas pela ideologia
marxista é outra grande sacada dos olavetes de plantão. Existe uma grande
insistência em dizer que comunismo é pior que nazismo, pois matou mais (e até
mesmo que nazismo é de esquerda). De fato, em nenhum momento deveríamos passar
a mão na cabeça de Stalin e nem de Mao, mas as milhões de mortes ordenados por
Hitler foram impulsionadas pelo antissemitismo e pela crença da superioridade
alemã acima de outras nações. É fato que muitas pessoas morreram na URSS e na
China de Mao, mas a razões estão muito mais ligadas aos erros estratégicos de
governos e pela exaustiva exploração da massa de trabalhadores na construção de
uma nova nação que seja forte suficientemente para permanecer independente do
capitalismo e para competir com a política expansionista dos EUA.
Outra grande
desonestidade está em culpar Karl Marx por essas mortes, sendo que nunca na sua
vida escreveu um livro relatando a “sua luta” contra alguma “raça” e
concordando com seu extermínio. Marx foi um pensador cujo princípio ideológico era a liberdade dos trabalhadores. Quanto a Che Guevara, vale lembrar
que se trata de um revolucionário que guerreou com um exército de outros
revolucionários contra um exército militar cubano do governo Batista e numa
guerra se mata ou morre, infelizmente. Essa falácia é facilmente derrubada com
a leitura de livros de História.
Mas e o capitalismo? É o
melhor sistema para a humanidade? Para a humanidade, certamente que não, mas
para algumas dezenas de pessoas é excelente! O capitalismo como o próprio
nome diz, é um sistema em que os que ditam as regras são os capitalistas. Mas
quem são os capitalistas? Detentores de meios de produção ou qualquer outro
meio de poder sobre uma imensa maioria, cuja sua imensa propriedade privada e
bens lhes colocam a uma posição que permite controlar as outras classes através
do preço e circulação de mercadoria e também controlar as leis constitucionais.
Para esses que interessa a
alienação popular, a degradação da capacidade crítica, a dependência pelo
celular, games, programas de televisão, o projeto Escola sem Partido, a onda
anticomunista, privatizações etc, tudo isso para manter e expandir seus bens,
propriedades, luxo e poder. Não interessa para essa minoria mais rica da
população mundial uma educação libertadora, que estimule o pensamento crítico,
pois isso colocará em risco o seu sistema. Não interessa para elas um mundo
mais igualitário, muito pelo contrário, lucra com a desigualdade. Não interessa
um mundo de paz porque lucra com a guerra. Não interessa que países pobres e
subdesenvolvidos se desenvolvam social e economicamente porque perde sua
(neo)colônia, onde extrai e explora seus recursos naturais a baixo custo, em
países ou continentes riquíssimo em sua natureza, mas com sérios problemas
sociais e econômicos. Investem na derrubada de governos, causam caos, implantam
a “bagunça” social justamente para que esses países não se organizem rumo ao
desenvolvimento tornando-os presas fáceis de um grupo de ricaços que estão às
sombras de governos e militares pelo interesse na exploração de trabalho e da
terra alheia. Não é à toa que nenhum país da África e da America Latina é
desenvolvido plenamente.
A exploração do homem pelo
homem está sendo anestesiada pela religião e pela ideia de que trabalho lhe
trará riquezas, enganam os trabalhadores, mentem! Enquanto destroem a natureza
e seguem com a exterminação de povos nativos. Envenenam a terra, a água e o ar
tudo pelo “desenvolvimento” e “crescimento”, mas somente o desenvolvimento e
crescimento de suas riquezas, suas terras, suas contas bancárias, suas
mordomias e poder.
Não estão preocupados com a
saúde das pessoas, mas sim em vender remédios e serviços médicos quase sempre
sem compromisso com a cura plena de doenças, pois lucram com a doença alheia.
O capitalismo é o sistema que
não produz alimento para a humanidade, mas para vender à humanos e quem não tem
condições que se virem com as políticas governamentais ou ONGs se tiver sorte
de existir no seu país. Como consequência disso, da maioria que não pode pagar
e nem usufrui de assistências governamentais ou de ONGs, cerca de 18 milhões de
crianças morrem de fome anualmente.
Não vemos críticos colocar na
conta do capitalismo a exploração de crianças e mulheres grávidas até dar a luz
dentro das fábricas em troca de mixaria de salário apenas para sobreviver, não
contabilizam as mortes por inanição das pessoas dependentes de trabalhadores
que ganhavam essa mixaria. Nem de trabalhadores na construção de grandes
edifícios de empresas pela falta de equipamentos de segurança. Nem contabilizam
a alta taxa de mortalidade infantil no “grande” século da Revolução Industrial
na Inglaterra, nem em qualquer país que ainda sofre com essa barbárie. As
mortes por petróleo, pelo ouro, diamantes vamos colocar na conta do
capitalismo? E para concluir, a destruição da natureza que extingue milhares de
espécies de animais e plantas, o aquecimento global, o desgelo nos polos, a
caça para vender peles, chifres, dentes, penas, óleos de animais, não vamos
colocar na conta capitalismo? Toda essa situação que vivemos hoje em relação ao
nosso planeta se não houver uma mudança radical entraremos na era da extinção
da humanidade e para isso é preciso acabar com esse sistema que lucra com a
destruição, é preciso acabar com o capitalismo. Se não for assim, não apenas
bilhões de pessoas morrerão, mas TODA a humanidade morrerá e consigo levará
praticamente todas as espécies de animais. Definitivamente esse é o pior
sistema para a humanidade.
Fontes:
GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Tradução de Sérgio Faraco. Montevidéu: LP&M, 2010.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos.O breve século XX 1914-1991. 2 ed. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MARX, Os Pensadores. Manuscritos Econômico-filosóficos e outros textos escolhidos/ Karl Marx; seleção de textos de José Arthur Giannotti; traduções de José Carlos Bruni...(et al.). - 2. ed. - São Paulo: Abril Cultural, 1978.
Onde o Socialismo deu Certo? Disponível em: <http://omarxistaleninista.blogspot.com>. Acesso em: 25/11/2018.
EL Che. Direção de Matías Gueilburt. Argentina/Cuba: Netiflix, 2017. (119 min.), son., color.
CUBA e o Cameraman. Direção de Jon Alpert. EUA: Netiflix, 2017. (114 min.), son., color.